A difícil arte da socialização
Um mar faz muita falta pra nós mineiros, concordo. Acho um absurdo um carioca me dizer que passa meses sem colocar o pé na areia. Isso é praticamente uma agressão. Mas a gente aceita, não tem o que fazer. Na falta de mar o mineiro encara mesmo duas coisas: o bar e o shopping. E como não sou muito fã de ficar em bar, acabo virando um frequentador praticamente assíduo de shoppings.
E lá estava eu, mais uma vez nesse recinto símbolo do consumismo, aguardando com toda a paciência que me é peculiar, minha esposa terminar suas compras em uma grande loja de departamento.
Enquanto isso, me deparei com uma enorme área destinada a brincadeira de crianças, dessas onde os pais depositam seus filhos, na esperança de ter um pouco de paz para fazer as compras e depois voltam para resgatá-las.
A fila era grande, o preço salgado. A mãe segura na sua mão e ele ansioso para entrar naquele paraíso. Era um garoto de uns 4 anos de idade, clarinho, blusa vermelha e cabelo bem crespo e como eu não o conhecia, passou a ser o "Beto".
Os olhos de Beto brilhavam e ele quase não se continha no desespero por participar daquilo. Logo que entrou, correu no espaço vazio em busca do primeiro brinquedo. Aquilo estava transbordando de tanta criança... Os outros meninos interagiam, corriam atrás dos outros, empurravam e se escondiam... Beto entrou em um labirinto com escorregadores coloridos, portas e escadas de plástico e ali ficou a obervar todo o resto. Sua timidez não deixava que se envolvesse com os outros. Coçou a cabeça... apenas olhava.
A única coisa que a sua coragem lhe permitia agora, era observar de longe o que os outros faziam. Imobilizado pelo medo do desconhecido, medo de se mostrar aos outros e ser percebido como mais fraco ou como menos divertido. Talvez alguém o chamasse pra brincar junto, seria sua salvação, mas nem percebiam sua presença. Arriscou a sair do seu abrigo e pegar um carrinho. Correu de um lado para outro apenas uma vez, sempre atento aos que lhe rodeavam. Mais uma vez parou e ficou a apreciar a diversão dos outros, ele continuava sozinho.
Por um momento fiquei com pena de Beto, mas logo pensei: "Ei, Beto! Bem vindo ao mundo real!" Cara, a vida é assim, aprecie suas primeiras experiências nesse mundo de quem não está ligando a mínima para o que você é, pensa, faz ou sente. O mundo não foi feito para os tímidos e nem para os fracos, não existe este espaço reservado. Você passa pela sua existência sem ser notado e niguém vai chorar quando se for.
Já me senti assim um dia, claro! Mas tento a cada dia fazer a minha opinião e o respeito dos outros valerem.
Não se sinta nunca inferior a ninguém, quem é realmente melhor não está aqui mais.
Você é mais divertido, mais cativante, mais extrovertido que os outros?! Parabéns, isso não te acrescenta em absolutamente nada. Vá fazer isso tudo valer a pena e faça a diferença na vida de alguém!! O resto... é balela.
O Beto ainda está lá... a empolgação não. Não fez nenhuma amizade, não brincou com ninguém não foi sequer notado. Talvez agora só reste o tédio da espera do seu resgate pela mãe... alguém que realmente se importa com ele.
Ela chega das compras...